1. VOCAÇÃO FUNDAMENTAL
A) Vocação Humana: é a primeira resposta do homem ao chamado de Deus que o chama a tornar-se “gente”. – “pessoa humana”. Consiste em viver, pessoal e comunitariamente, valores e virtudes humanas. Por exemplo: a autenticidade, a liberdade, a responsabilidade, a constância, a convivência, a solidariedade, o amor.
B) Vocação Cristã: é o chamado à santidade de Deus, em Jesus Cristo. Consiste em viver na comunhão e cooperação com Deus, sendo presença e instrumento de sua ação no mundo. É uma vida assumida em Cristo, por Cristo e com Cristo, pelo Reino de Deus.
2. VOCAÇÕES CRISTÃS ESPECÍFICAS
A) Leiga: assume o seguimento de Jesus Cristo pela evangelização e compromisso com a libertação dos oprimidos, pelo anúncio profético do Reino e transformação da sociedade.
B) Sacerdotal: assume animar, dinamizar e articular as comunidades de fé e formar os ministérios diversos que o povo de Deus necessita, visando a promoção integral de todos, em Cristo.
C) Religiosa: Cristão/ã consagrados a Deus pela profissão dos votos. Assume seguir radicalmente o Senhor e se por a serviço do povo de Deus, de acordo com o carisma da congregação. Tem a missão de anunciar o Reino de Deus e de colaborar na construção deste Reino.
D) Missionária: É aquele/a que consagra a sua vida para fazer com que o anúncio e o testemunho de Cristo e do Reino chegue a todos os povos.
3. VOCAÇÃO RELIGIOSA
A vocação é um diálogo entre Deus que chama e a pessoa que responde. É um encontro de comunhão dentre duas liberdades: a de Deus e a da pessoa, que convergem para uma obra comum: a construção do Reino.
A) Chamado de Deus: “chamamento de Deus” - Deus toma a iniciativa e propõe à pessoa seus desejos de aliança e de comunhão. O chamado de Deus é gratuito, pessoal, intransferível e irreversível. É um Dom.
B) Resposta da pessoa: “discernimento” - A pessoa é convidada a descobrir e a dar uma resposta ao chamado de Deus através de um projeto de vida. Esta resposta deve ser livre, generosa, decidida.
C) Para uma missão: “evento salvífico” – ajudar na construção do Reino de Deus, em nossa história, como obra comum de Deus e do homem.
4. DIMENSÃO OPERACIONAL DA VOCAÇÃO
A) A partir de Deus – Vocação como carisma. Deus chama alguém dando lhe dons e carismas (qualidades humanas, espirituais, atração e fortaleza interior) que o capacitam para um serviço. A realização da vocação se concretiza na utilização de dons e carismas.
B) A partir das necessidades do mundo e da Igreja: vocação como tarefa e serviço. A sociedade interpela com suas necessidades humanas e evangélicas e espera uma resposta. A vocação se concretiza num serviço adequado à realidade, de acordo com o carisma da pessoa.
O chamado de Deus se exprime numa dimensão interior e numa dimensão exterior.
A) Dimensão interior do chamado: dimensão da graça, do Espírito Santo. É o inefável fascínio interior que a voz silenciosa e poderosa do Senhor exerce nas insondáveis profundezas da alma humana.
B) Dimensão exterior do chamado: É o humano, sensível, social e jurídico que traduz a mensagem do Verbo, que realiza a proposta – Projeto de Deus.
A vocação é o resultado de um encontro entre Deus e a pessoa. Deus é dinâmico. E chama pessoas permanentemente. Toda vocação, todo projeto vocacional se insere no único Projeto de Deus que é um projeto de salvação e, este é um projeto social, histórico e político. Toda vocação é um serviço ao Reino de Deus.
Como assumir a sua
vocação específica com liberdade e maturidade?
É necessário fazer um processo de discernimento vocacional com oração pessoal, participação na comunidade eclesial e nos movimentos sociais, considerando:
É necessário fazer um processo de discernimento vocacional com oração pessoal, participação na comunidade eclesial e nos movimentos sociais, considerando:
A)
As necessidades do povo;
B)
Os carismas pessoais;
C)
A missão e os serviços das diferentes vocações
específicas: laical, religiosa e missionária.
A partir disto, fazer uma opção por causa de Cristo e do
Reino. Escolher uma das vocações específicas de acordo com a inspiração do
Espírito e o carisma pessoal.
Referências
Bíblicas:
1.
Abraão: Gn 12
2.
Moisés: Ex 3
3.
Isaías: Is 6
4.
Jeremias: Jr 1,
5.
Maria: Lc 1, 26-56
6.
Paulo: At 9, 1-30
5. CONSAGRAÇÃO
RELIGIOSA
Ø É
consagração total a Deus. É um reservar-se incondicionalmente a Deus, a exemplo
da pessoa e da prática de Jesus Cristo:
o Abertura
ao Pai;
o Amor
ao povo de Deus;
o Anúncio
alegre de um futuro feliz;
o Compromisso
de transformar a sociedade em Reino de Deus.
Ø É
fazer uma experiência de Deus, mediada pela pessoa e prática de Jesus, na ação
do Espírito Santo. É viver está experiência como projeto central e fundante da
nossa vida.
Ø É
assumir a convocação do Espírito, na história, e se empenhar com amor e
alegria, na construção de um mundo novo, liberto e fraterno, em Cristo, comprometendo-se
com a Justiça do Reino, até o fim.
Ø É
experimentar a ação amorosa e transformadora do Espírito Santo, que age nas
pessoas e na história, num dinamismo de
libertação, e nos conduz a plenitude da vida.
Dialética da Consagração Religiosa
A consagração religiosa conserva em si duas dimensões em
relação dialética: dimensão reserva e dimensão missão. É preciso conjugar essas
duas dimensões ou pólos da consagração.
Para viver a dimensão “reserva” da consagração é
indispensável:
·
Um permanente contato com Deus;
·
Um engajamento afetivo na comunidade fraterna;
·
Veneração pela sacralidade divina de todas as
pessoas.
Na origem desta reserva está um impulso humano que busca
insaciavelmente o Absoluto e por Ele se sente livre face a tudo, para uma
doação total e generosa.
A reserva para Deus inclui missão. Pela missão o
religioso/a colabora com Deus na realização da história da salvação; na
estruturação do Evangelho; na construção do Reino e, desfaz as relações de
pecado na sociedade.
A consagração é
uma dinâmica permanente, intrínseca e extrínseca que vai formando a nossa
identidade religiosa. Pela profissão dos votos, o religioso/a intenciona
denunciar o senhorio dos ídolos deste mundo com seus poderes constituídos:
riqueza, poderes e prazeres.
Voto de pobreza:
consiste numa liberdade para servir e num compromisso efetivo de solidariedade
com as categorias oprimidas, incluindo a luta pela justiça.
Voto de
obediência: fidelidade a Deus pela vida de oração e corresponsabilidade no
seu projeto de salvação do povo.
Voto de Castidade:
consiste em viver somente para Deus e colaborar com Ele na sua missão
salvífica.
Para viver mais intensamente a comunhão com Deus e o serviço
ao Reino, o religioso se insere em um instituto de vida consagrada e vive uma
vida de comunhão.
Para integrar-se em um instituto de vida consagrada
exige-se:
·
Personalidade própria;
·
Maturidade;
·
Responsabilidade pessoal;
·
Esforço para discernir as interpelações do
Espírito;
·
Capacidade de diálogo.
A religiosa explicita com um compromisso público sua
aliança com Deus e faz desta aliança o centro, o eixo que orienta toda a sua
vida.
6. VIDA RELIGIOSA NO PERFECTAE CARITATES
PERFECTAE CARITATE - PC: Decreto do Concílio Vaticano II
sobre a Renovação da Vida Religiosa. Trata da vida dos institutos de vida
consagrada.
O PC define vida religiosa como prática dos Conselhos
Evangélicos, para seguir Jesus Cristo, com mais liberdade.
Vida consagrada a Deus com a profissão dos três votos:
pobreza, obediência e castidade.
A norma suprema da vida religiosa é o seguimento de Jesus
Cristo.
Princípios da Vida
Religiosa:
·
Seguimento de Jesus Cristo (norma suprema);
·
Fidelidade as sãs tradições;
·
Participação ativa na missão da Igreja (assumir
como própria a missão da Igreja (faça sua e sustentem como própria as
iniciativas pastorais nos vários campos: bíblico, litúrgico, dogmático, social,
ecumênico, missionário);
·
Formação para a missão. Que todos os membros da
ordem conheçam bem as exigências da realidade político-social para que possam
mais eficazmente exercer a missão.
Sendo o objetivo principal da Vida Religiosa a
consagração total da pessoa a Deus, inspirada na pessoa de Jesus Cristo, a
capacitação dos religiosos, a convivência e a missão só terão êxito se forem
animados e sustentados por uma profunda espiritualidade. Assim sendo, a
renovação espiritual tem a primazia sobre o apostolado, a formação dos religiosos
e a atualização da vida religiosa. É a espiritualidade quem vai sustentar e dar
significado as outras dimensões.
A vida religiosa: Consagração total à Deus e ao serviço de Deus
·
Tem suas raízes na consagração batismal.
·
É a expressão mais forte da consagração
Batismal.
·
Ela é a doação que a pessoa faz de si à Deus,
aos pobres prediletos de Deus, na igreja.
A profissão religiosa é o seguimento de Jesus através dos conselhos evangélicos.
O Seguimento de Jesus é o eixo condutor da Vida Religiosa
A religiosa, deve buscar unicamente a Deus sobre todas as coisas e, deve unir a contemplação
(que a torna capaz de aderir a Deus com toda a mente e coração) ao zelo apostólico (dilatação do reino
de Deus) numa dinâmica que une contemplação e zelo
apostólico.
Procurem a amem antes de tudo a Deus que nos amou
primeiro. Em todas as circunstâncias alimente a sua união com Deus, de onde
recebe a força para amar o próximo e para colaborar na construção do Reino de
Deus. Exercitem fielmente a oração e
cultivem o espírito de oração.
Nutrida
pela palavra de Deus, pela oração e comunitária, pela fraternidade (carregando
uns os fardos dos outros), com o amor de Deus difundido nos corações pelo
Espírito Santo (Rm 5,5), a comunidade é a família unida por Deus, com Deus e em
Deus (Mt 18,20).
7.
OS CONSELHOS EVANGÉLICOS
7.1. POBREZA:
A pobreza voluntária abraçada para seguir a Jesus Cristo
e ser sinal da pobreza de Cristo (que sendo rico se fez pobre para salvar a
humanidade) seja diligentemente cultivada pelos religiosos (PC 13).
Queremos identificar-nos com Jesus Cristo. Por isso nos
comprometemos a cultivar a pobreza por uma vida simples e sóbria, na confiança
em Deus, junto aos empobrecidos, assumindo com eles a causa da libertação.
A vivência da pobreza evangélica, individual e comunitariamente,
nos faz livres para denunciar os sistemas opressores e anunciar o plano
salvífico de Deus.
A religiosa
consagrada testemunha na sua vida a pobreza de Cristo. Diante de uma sociedade
seduzida pelo individualismo, pela sede do ter, do poder e do prazer, ela deve
ser sinal do Evangelho de Cristo, levando uma vida de simplicidade, de partilha
e de amor aos irmãos.
7.2. OBEDIÊNCIA:
Nosso compromisso de obediência fundamenta-se na obediência de Cristo
que veio ao mundo para realizar a vontade do Pai. “Meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e completar a sua obra” (Jo 4, 34).
Pelo voto de Obediência a pessoa consagrada afirma sua vocação profética como profunda fidelidade à intimidade com Deus e aos desígnios de Deus que se manifesta nos apelos da realidade em que vivemos.
Colocamos nos livremente , individual e comunitariamente, em confronto
com a vontade salvífica de Deus e em total disponibilidade para servir onde a
vida estiver mais ameaçada.
Nossa obediência deve ser ativa e responsável para promover a união das
forças para o bom do Instituto e do povo de Deus.
A religiosa consagrada procura seguir cristo, na obediência de Cristo,
na encarnação de Cristo junto aos mais pobres, caminhando com os pequenos de
nossa sociedade, na conquista e garantia de seus direitos, na solidariedade e
na justiça, antecipando a chegada do Reino, quando Deus e seu Espírito de Amor
será tudo em todos.
Pela obediência a religiosa assume com fidelidade os serviço à causa do
Reino que passa pela garantia dos direitos aos pobres, pela solidariedade com
os sofredores e pela construção de uma sociedade justa e igualitária para que
venha o Reino de Deus.
7.3. CASTIDADE:
A castidade abraçada por causa de Deus e do Reino liberta
de modo especial o coração humano (1Cor 7,32-35), inflamando-o sempre mais de
caridade para com Deus e para com o povo de Deus (PC 12).
A castidade nos faz livres para viver a pureza em todo o
nosso ser, como resposta ao amor de Deus que “nos amou primeiro” (1Jo 4,10). O celibato deve ser fonte de amor, para sermos
a exemplo de Jesus Cristo, dom de Deus a serviço da humanidade. Pela profissão
da Castidade, a religiosa se torna livre para o apostolado.
O celibato consagrado a Deus deve ser um meio para o
desenvolvimento integral da pessoa. Esta profissão atinge as inclinações mais
profundas da natureza humana. A religiosa é chamada todos os dias, a uma
relação afetiva adulta com todas as pessoas e, a assumir conscientemente o
celibato por causa do Reino de Deus. Os
que se candidatam à castidade devem ser admitidos depois de terem conseguido
uma suficiente maturidade psicológica e afetiva.
Pelo voto da castidade a religiosa consagrada se reserva
para viver somente para Deus e para a missão salvífica do Espírito, no mundo.
Ela se dispõe a denunciar toda idolatria, falsos valores e escravidão que os
poderes estabelecidos impõem ao povo e a construir, com os oprimidos, uma
sociedade justa e fraterna, conforme os valores do Reino de Deus.
A religiosa consagrada renova diariamente o seu “sim”
concentrando toda a sua atenção, capacidade e afeto em Deus, e na vontade
salvífica e amorosa de Deus, buscando fidelidade na intimidade com Ele pela
oração, sendo companheira dos empobrecidos e sofredores em suas lutas;
anunciando a Verdade do Evangelho e denunciando as mentiras e injustiças
sociais, acreditando sempre no homem novo e na nova sociedade; criando
irmandades e vivendo fraternidades, antecipando a chegada o Reino.
